A Mensageira - Cidade das Ilusões


Prólogo.

Mais uma briga com Susan. Mais um castigo.
Essa era minha rotina no orfanato Madre Piedade.
Quando eu tinha três anos, meus pais me largaram no orfanato. Tenho dezessete agora – estou à um mês dos dezoito – e com meio caminho andado para Yale com bolsa integral. Só teria que arrumar um emprego e me sustentar. Graças aos céus. Não suportaria ter que ficar aqui mais tempo do que o necessário.
Bom, os planos eram necessariamente continuar viva.
Madre Piedade, fundadora do orfanato, me odiava profundamente. Quando eu era mais nova, ela pegava mais leve, mas nos últimos dois anos, o que ela têm feito... é abuso. Abuso de poder. Tirania. Tudo de ruim.
Começou com um castigo aos 16 por bater em Susan. Rezei de joelhos em cima do milho e passei uma semana trancada num quartinho escuro, o quarto da punição. Sem comida.
Custei a me recuperar, e um tempo depois, Susan me irritou de novo. Dei uma surra nela. A Madre deu a ela o direito de me amarrar e me bater o quanto quisesse.
Depois dessa, quando me recuperei, bati tanto, tanto, mas tanto em Susan que fiz ela quebrar a perna.
Eu apanhei com chicote. Nas costas nuas.
E é assim que eu me encontro agora. Cheia de marcas e cicatrizes, a poucas semanas do meu aniversário de dezoito.
De minha libertação.
Eu não entendia porque tanto ódio. Porque tanta maldade. Às vezes ela nem parecia humana. Parecia que por trás daquela velha gorda, feia e rabugenta havia uma espécie de... demônio. Ela parece possuída por um daqueles demônios. Até na força na hora de espancar você.
Agora... Susan. Ela era linda. Uma bela duma vadia, mas linda. Cabelos escuros, olhos verdes, pele bronzeada... como se ela tivesse tomado sol recentemente. Sem falar no corpo escultural. Éramos as únicas de nossa idade – ela era alguns meses mais velha. A diferença entre nós era: ela não precisava ficar trancada no orfanato. Podia sair. Tinha emprego. Dinheiro para comprar coisas legais. Andava bem vestida. Eu era prisioneira. Maltrapilha. E mais um monte de coisas.
Para me inscrever em Yale, eu tive que fugir. Fui castigada severamente, mas valeu à pena. Quando setembro chegasse, nada mais me seguraria nesse maldito orfanato.
Mas como era agosto...
O orfanato tinha um aspecto sombrio com suas paredes cinza, as lâmpadas fracas e de pouca iluminação, corredores largos demais e assustadoramente silenciosos. Durantes as noites frias do rigoroso inverno, com a tempestade e o vento chicoteando nas janelas, poderia até ser comparado com uma cena de filme de terror. Era horrivelmente assustador. Não que eu fosse algum tipo de covarde... Na verdade, me considero uma garota bastante corajosa, mesmo em condições como estas.
Imaginem vocês como é horrível viver num lugar cinza, tão opaco como se alguém tivesse entrado ali e tirado toda a felicidade, não deixando nem uma faísca para melhorar a situação. Era assim que me sentia toda vez que vagava pelos corredores, entre uma aula e outra, entre um intervalo e o fim das aulas. Triste. Abatida. E isso só piorava quando eu me aventurava pelos corredores do segundo e último andar – na verdade, por um único corredor desse andar em particular.
O corredor a que me refiro tem um apelido famoso entre as garotas daqui. O corredor da punição. E, se você quer saber o quão horrível é o dito cujo, basta imaginar: um corredor estreito, fechado, escuro demais, sem janelas e com uma única porta, que dá acesso ao – famoso – quarto da punição. Acho que as meninas daqui temem mais esse quarto do que a própria morte. Talvez a única coisa pior que o quarto seja a Madre. No conceito geral de todas.
Era essa a minha vida. Eu achava um lixo.
Tem quem diga que eu um dia acharia algo pior que isso?
Antes eu juraria de pés juntos que não, nada seria pior. Mas hoje é tudo muito diferente.


Continua...


Nota da Autora: Esta versão é uma fanfic baseada no livro que escrevi. A maioria dos fatos não é igual, mas personagens são os mesmos. Tem coisas que serão parecidas com as do livro.
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