Bleeding Love Life Lies II

 





Prólogo
1. Minha última despedida?

Prólogo
Monólogo


Juntar os pedaços de meu coração. Era essa a tarefa que eu agora tinha. Meus dias, contados ou não, seriam como enfrentar o deserto com roupas de inverno, ou talvez uma nevasca com roupas de verão. Eu não podia cair agora.
Não agora.
Olhei para a bela pulseira dourada com lágrimas nos olhos. A dor... tão grande...
Havia uma ferida que sangrava. Sangrava amor, vida e mentiras.
Sangrava amor por aquele que me deu as costas em meio à batalha. Por aquele que me deixara para trás, sozinha e desamparada.
Sangrava vida, pois minha vitalidade nunca fora tão perfeita. Nunca esbanjei tanta vida. Eu tinha uma tarefa e a resistência necessária para completá-la. Pelo menos fisicamente.
Sangrava mentiras que eu contava para mim mesma. Nada ia ficar bem. Ele não ia voltar.
Para que fechar os olhos se não consigo dormir? Para que chorar se minhas lágrimas não o trarão de volta? Para que lamentar se isso não irá resolver nada?
Eu não posso estar inteira, mas posso fingir. Posso criar uma nova face, posso me esconder.
Então é isso o que farei. Mas não posso esconder meu desejo de sobreviver para vislumbrar aqueles olhos uma vez mais.





Capítulo 1
Minha última despedida?


Agosto. Mais uma vez agosto. Faltava pouco para as aulas retomarem seu curso em Hogwarts, e eu ainda estava em casa, sem saber o que fazer.
Tornara-se algo comum eu sair para caminhar sozinha pelas ruas, assim como eu fazia nos corredores da escola. Aquele ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts me mudara profundamente. Meu hábito apenas tornou-se mais intenso depois de uma carta que recebi, através do correio bruxo, por meio de corujas. Era uma carta de Minerva McGonagall.

****

,

Escrevi-lhe à pedido de Dumbledore. Ele pediu-me que lhe enviasse o documento anexo, mas não faço a mínima ideia do que possa ser.
Conte comigo para o que for necessário,
Minerva McGonagall.


****

McGonagall sabia o quanto tudo estava sendo difícil para mim, e certamente este fora o motivo do "conte comigo para o que for necessário". Eu senti uma afeição ainda maior por ela.
Dumbledore enviara uma certidão de nascimento que alegava que eu era sua neta. Juntamente, havia uma carta, que explicava que aquele documento era a maneira mais viável para que eu retornasse à Hogwarts, e que era crucial que eu voltasse. Era um documento falso, porém só eu podia saber disso. E isso era o pior: ter que guardar sozinha um segredo como este.
Como de costume, fui dar uma volta pelo quarteirão. Havia uma praça ali perto, e eu gostava de ir até lá para caminhar a esmo, sem direção, tomar um pouco de ar e luz solar. Certamente nunca esperava ver o que vi; não ali, tão distante daquele mundo. Não ali, onde nada parecia real.
— Olá, .
Parei imediatamente, me virando, incrédula. Não conseguia acreditar.
— Draco?
Draco Malfoy, no Brasil? Atrás de mim? Como é?
Rapidamente, procurei por minha varinha, mas eu a deixara em casa.
Merda, pensei.
— O que você quer? – perguntei. – O que te fez vir até o Brasil?
— Eu... preciso de sua ajuda – disse.
Mentira. Ele está armando alguma coisa para cima de mim.
— Hm. Fale o que houve.
— O... Você-Sabe-Quem, ele... , você disse que podia me ajudar. Eu... preciso disso agora.
— Claro que precisa. Não deve ser nada agradável dividir sua casa com um bando de bruxos sádicos.
— O que você disse, sangue ruim? – perguntou Lestrange, desfazendo o Feitiço da Desilusão. – Como soube disto?
Eu sabia. Perfeito.
Atrás de Lestrange e Draco, surgirem mais quinze Comensais. Sim, eu contei.
— Precisa de ajuda, Draco? – eu disse, com repulsa. – Você irá se arrepender disto, eu prometo.
Eu precisava fugir, o quanto antes melhor. E só tinha uma saída.
Bombarda Maxima!
O som da explosão foi alto, mas foi simples, como o de um bruxo comum com sua varinha comum. Comigo não devia ser assim. Eu era incomum, capaz de fazer feitiços que os outros não podiam sem a varinha. Mas com minha varinha, eu tinha o dobro do poder.
Ou seja, eu tinha as mesmas chances que Harry Potter teria para escapar daquilo. Ou talvez ele tivesse mais chances que eu – nunca enfrentei basiliscos e afins.
Aparatei até minha casa, sem pensar duas vezes, mas já era tarde demais. Draco certamente me espionara nos últimos dias, pois eles já estavam lá quando cheguei. E Bellatrix segurava minha mãe, varinha na jugular dela.
— Não! – gritei. – Não, Lestrange, por favor, não! Eu faço o que quiser, mas não os envolva nisto!
Lestrange sorriu; era um sorriso debochado.
Eu dei um passo e ela apertou a varinha no pescoço de minha mãe.
— Melhor ficar quieta se quer que a Sra. sobreviva, .
— Não faça nada – pedi. – Por favor.
— Infelizmente, querida, este não é seu dia de sorte. – Bellatrix sorria como se o Natal tivesse sido antecipado e ela visse o presente que mais desejara. – Tenho minhas ordens.
E então ela gargalhou, ao mesmo tempo em que uma luz verde e forte saía de sua varinha em direção à minha mãe. E depois, ela estava no chão, os olhos arregalados de pavor vazios.
Estava morta.
— SUA VACA! – gritei, ao mesmo tempo em que saltava para cima dela e metia-lhe um soco no rosto. Foi um erro. Eu devia tê-la matado enquanto tive chance, pois antes mesmo de cair ao chão, minha casa estava em chamas; eu devia me lembrar bem que não se brinca com Bellatrix Lestrange. Era Fogo Maldito. Eu jamais poderia passar por ele; não aprendera ainda como lidar com aquilo ainda.
— Não vai salvar o Sr. e a cadelinha... como é mesmo o nome dela? Mel? – Bellatrix mantinha o mesmo tom debochado, porém agora mais anasalado devido ao soco que levara no nariz.
— NÃO! – gritei, enquanto tentava passar pela enorme serpente de fogo, que me atacou e mordeu meu braço. Não desisti. Levei várias mordidas de outras criaturas de fogo enquanto tentava milhares de feitiços que eu sabia; até tentar passar por sobre o fogo usando levitação eu tentei, mas é claro que os monstros de fogo não me deixaram passar. Em poucos minutos, a casa explodiu pelos ares.
— NÃO! – Eu continuava a gritar, mas era tarde demais.
Minha família estava morta.
Tremendo de ódio e dor, com o cabelo destroçado pelas chamas do Fogo Maldito que ainda queimavam os restos daquilo que há minutos fora meu lar, as vestes destroçadas e o corpo ensanguentado, virei-me para Draco, Bellatrix e as outras quinze figuras encapuzadas. Não iria perder tanto sem levar muitos comigo.
— Accio Varinha! – Evoquei minha varinha e ela surgiu dos escombros, completamente intacta. De repente, lembrei-me de algo que eu não podia deixar para trás de modo algum. – Accio Documento! – A certidão de nascimento falsa veio parar em minha mão, parcialmente queimada. Lestrange ria descontroladamente, de modo similar àquele a atriz Helena Bonham Carter, que fez no filme Harry Potter e a Ordem da Fênix depois de matar Sirius Black, só que ainda mais detestável e revoltante. – Sectumsempra! – No ar, agitei a varinha de um lado para o outro, e, de uma vez, feri profundamente quatro dos Comensais que ali estavam. Eu precisava agradecer Snape por esse feitiço; era realmente útil. Eles sangravam descontroladamente, com cortes horrendos.
Agora faltava derrubar mais onze deles.
Travamos uma batalha injusta e sangrenta, onde eu machuquei muitos deles. De um modo doentio, aquilo me acalmava e me dava conforto. Alguém estava pagando pelo que Bellatrix fizera aos meus pais. Mas quem deveria pagar não o fez. Assim sendo, com os quinze Comensais no chão, machucados, uns até inconscientes, encarei Bellatrix. Draco, vi pela visão periférica, me olhava como se eu fosse Jacob Black e tivesse acabado de me transformar num monstro na frente dele.
— Você vai me pagar pelo que fez, Bellatrix Rosier Black Lestrange. – Isso só fez com que gargalhasse mais alto.
— Acredito que hoje não, sujeitinha de sangue ruim imunda! Crucio!
Fui pega de surpresa, e caí ao chão, completamente desnorteada e sentindo aquela dor excruciante. Lestrange se aproximou, varinha à postos, rindo.
— Vamos embora, tia – disse Draco. Parecia agitado, pelo tom de sua voz.
— Assim que eu terminar com ela, querido.
— Mas... era só para... – balbuciou ele. – Não era para fazer nada a ela, tia.
— Você vai me pagar, Malfoy – eu disse, olhando-o nos olhos. – Vou me vingar por ter feito isso comigo.
E antes que pudessem fazer algo, desapareci no ar. Meu rumo? A Toca, é claro.

Quando desaparatei, caí de costas numa superfície plana (o chão, provavelmente), tonta e sem forças. Todo o meu corpo doía demais.
? – Quem me chamou foi Harry, mas várias vozes lhe fizeram coro.
Abri meus olhos, mas a visão era turva. Pela quantidade de pessoas que vi e a claridade do céu, deduzi que eu tinha "invadido" a festa de Harry. A festa a qual me esqueci de ir. Antes tivesse ido; minha família estaria viva.
— Harry...
— Ela se estrunchou – ouvi Hermione dizer.
— Vou cuidar disso. – Essa certamente era a voz da Sra. Weasley.
— O que houve? – perguntou Harry, segurando minhas mãos.
— Comensais... Quinze Comensais... Draco... Bellatrix... – Eu não conseguia falar direito. Caí no choro.
— Ela precisa ir para um quarto – disse Sra. Weasley, num tom urgente.
— Eu levo – disse Fred.
Ele me pegou em seus braços e eu me vi gritando de dor e chorando ao mesmo tempo. Quando minha cabeça tombou no travesseiro, adormeci quase que imediatamente. Tive diversos pesadelos diferentes, mas todos envolviam quem eu perdi e os culpados da perda.

Era noite quando despertei. Ainda sentia dores no corpo. Alguém certamente me limpara, pois lembrava-me de estar muito suja graças aos destroços de minha casa. Meus machucados eram horríveis.
Minha casa, minha família. Destruídas.
Levantei e me olhei no espelho que ali havia, pendendo na parede. Eu estava num vestido que ia até pouco acima dos joelhos, e que era lilás. Não era meu. A maior parte de meu cabelo era um caso perdido; destroçado e chamuscado. Usando a varinha, cortei-o até estar bem curto. Ficou um Chanel, mas deixei duas mechas na frente um pouco maiores. Era como um corte em V invertido, por assim dizer.
Eu odiava cabelos curtos.
Desci as escadas e me deparei com uma sala cheia. Era hora de responder perguntas e mentir.
! – Hermione veio para meu lado.
— Mione – murmurei, abraçando-a. Logo Harry, Rony e Fred vieram me abraçar também.
— Agora pode nos contar o que houve? – perguntou Gina, abraçando-me.
— Aham – murmurei.
Eles se sentaram e eu fiz o mesmo, sentando numa cadeira disponível. Encarei os Weasley e meus amigos.
— Draco Malfoy foi me procurar – comecei. – Eu não estava em casa. Ele levou Bellatrix Lestrange e mais quinze Comensais.
Todos arfaram.
— Quando eu o encontrar... Ele vai se arrepender de ter nascido. Vou torturá-lo até a morte.
Eu tremia de ódio e uma lágrima me escapou, seguida de outras. Fred parecia deprimido.
... acredito que isso não irá resolver nada – disse Hermione. - Entendemos que foi um risco enorme, mas você está bem. Já passou.
— Você não entende! – Eu estava gritando. – Lestrange matou minha mãe com a Maldição da Morte na minha frente. Eu pude VER o pânico nos olhos dela enquanto aquela filha da puta lhe tirava a vida! E, como se não bastasse, ateou Fogo Maldito à minha casa e meu pai estava lá! Tudo por culpa dele!
Ninguém disse nada.
— Ele fez com você o mesmo que Pettigrew fez com meus pais – disse Harry, com a voz rouca.
— Ele disse que precisava de ajuda, e depois ficou olhando enquanto a tia destruía minha família. Ele ficou parado quando ela ia me matar.
— O que aconteceu foi horrível, mas você não deve querer vingança – disse o Sr. Weasley.
Era hora de mentir. Precisava fazer isso.
— O que Dumbledore iria pensar se soubesse que nem capaz de proteger seu filho eu fui?
— O quê? – perguntou Rony, chocado.
— Não sou nascida trouxa – eu disse, invocando minha certidão de nascimento falsa. – Veja.
Harry tomou-a de mim, e leu. Depois, disse:
— Dumbledore. Dumbledore.
Choque. Basicamente isto.
— Por que escondeu isto de nós? – perguntou Harry. Parecia traído. – Por que nunca disse que seu pai era bruxo, e ainda por cima filho de Dumbledore?
— Dumbledore se casou algum dia? – Rony parecia ofensivamente chocado.
— Eu e Dumbledore combinamos que passar por uma simples nascida trouxa seria mais seguro, uma vez que ninguém sabia que ele havia sido pai. Essa descoberta ia causar alvoroço, colocando toda a atenção dos bruxos sobre a neta de Dumbledore, um dos maiores magos de todos os tempos, pai de um bruxo abortado. Meus pais não esperavam que eu tivesse poderes; cresci como uma garota trouxa comum, porém à par de tudo no mundo bruxo. Dumbledore ficou chocado quando eu demonstrei meus poderes pela primeira vez. Eu era... muito pequena. Quase matei meus pais. E agora estão mortos, e a culpa é minha. Eles só tentavam me proteger... mas... eu devia protegê-los, e...
— Não é assim, – disse Gui. – Não pense isso.
— O que aconteceu non foe sua culpa, querrida. – Me surpreendeu ver Fleur dizendo isso.
Suspirei.
— Bem, não importa. Não posso mudar o que houve.
— Oh, querida. – Sra. Weasley me agarrou num abraço apertado. – Pode contar conosco. Vamos cuidar de você.
— E agora? Como serão as coisas? – perguntou Rony.
— Vou voltar para Hogwarts, como eu disse no ano passado – eu disse. – Desculpe mais uma vez, Harry... Dumbledore deixou bem claras as consequências de eu ir com vocês.
— Nós entendemos, – disse Harry. – Lamento pelo que houve.
Harry me puxou para um abraço reconfortante. Eu escondi meu rosto, chorando silenciosamente enquanto o apertava.
— Sei bem como se sente – disse Harry, ao meu ouvido.
— Ele... eu confiava nele, Harry. Eu o amava.
— Isso deve tronar tudo muito pior.
— Aham.
Seria difícil eu conseguir superar aquilo. Eu precisava de uma dose de vingança.




Capítulo 2
A Nova Hogwarts


Exatamente como no livro, houve o casamento de Gui e Fleur. E, também como no livro, o lado das trevas dominou Hogwarts, o ministério e, assim, o mundo bruxo. Harry, Rony e Hermione fugiram e eu fiquei para lutar.


Isso aliviou um pouco a dor, mas só momentaneamente.


Estávamos na véspera do retorno à escola. Fred e George trabalhavam, assim como os outros da casa, e ficávamos somente eu e Gina. Nós ficamos bastante próximas durantes estes tempos.


— Como acha que será lá na escola agora? – perguntou Gina, numa tarde de tédio no verão britânico. Na verdade, o nosso último dia de férias de verão.


— Um verdadeiro inferno. Sabe, teremos aulas de Artes das Trevas com Comensais.


— Hunf – fez Gina.


— Eu queria não ter que ir – murmurei. – Mas não tenho escolha.


Gina me abraçou.


— Vou ajudar você – prometeu. – No que precisar.


— Obrigada, Gina.





No dia seguinte, fomos para a estação King's Cross para retornar à escola. Sr. e Sra. Weasley pareciam preocupados demais comigo. Tratavam-me como se eu fosse filha deles, e aquilo era um novo alívio para minha dor.


— Venha ficar conosco nas férias de natal, querida – pediu Sra. Weasley.


— Obrigada por me convidar. – Eu sorri. – De verdade.


— Cuide-se. – Ela me beijou na face e adentrei o trem.


Foi uma longa viagem, aquela.


Quando finalmente desembarcamos, eu estava afastada de Gina – graças a Deus; nem gosto de imaginar o que podia ter-lhe acontecido – e fui barrada por Comensais. É claro que eu não ia entrar tão facilmente em Hogwarts.


— Você é uma das nascidas trouxas mais procuradas do país – disse ele. Com certeza me conhecia, decido à convicção de suas palavras.


— Sou sangue puro – eu disse. – E isso facilmente pode ser confirmado.


— O que faremos? – perguntou o mais robusto dos três.


— Veremos com Severo – disse o mais esguio.


Com isso, me arrastaram até o castelo à pé.


É, parece que eu jamais chegarei no horário certo no primeiro dia de aulas do ano em Hogwarts.


A caminhada foi bastante longa. Chegamos ao castelo e percebi que já estavam todos reunidos no Salão Principal. As portas se abriram e o silêncio reinou. Era como uma reprise barata do que acontecera há exatamente um ano.


— Diretor, temos uma sangue ruim no castelo – disse o filho de uma mãe que me segurava pelos cabelos, como se eu fosse um saco de batatas.


— Eu já lhe disse que sou sangue puro! – bradei, empurrando-o e fazendo com que ele me largasse.


— Não, você é uma sangue ruim! – Reconheci a voz fanha de Pansy Parkinson.


Vadia.


Ela se levantou da mesa da Sonserina e veio até onde eu estava.


— Todos sabemos que você é uma sangue ruim. Você mesma disse isso quando chegou, no ano passado.


— Aham, exato. – Fiquei bem próxima a ela. – Manipulei a todos para esconder a verdade.


— E qual seria a verdade? – Era Snape quem falava comigo agora. – O que você pode ter escondido de todos nós?


— Me admira muito que você não saiba, Professor Snape. – Escarneci do título. – Na verdade, surpreende-me que nenhum dos novos professores e funcionários de Hogwarts não saibam. Qualquer Comensal que se preze devia saber disso, para ser mais verdadeira.


Todos esperavam que eu acabasse com o suspense e fosse mais clara.


— Acredito que tenha chegado ao conhecimento de vocês que meus pais foram mortos – eu disse. – Bom, acredito que ninguém saiba disso, mas meu pai não era trouxa. Era um aborto. E era filho de Dumbledore.


Pareceu que cada ser vivo dentro daquele salão arfou ao mesmo tempo.


— Dumbledore? Seu pai trouxa filho de Dumbledore! – Snape parecia a ponto de cair no riso.


— Aborto, não trouxa. Minha mãe também era uma bruxa abortada. Conheceram-se no Brasil, casaram-se e lá passaram a viver entre os trouxas, pois era menos humilhante que caminhar entre bruxos e não poder fazer o que fazemos. – Incrível como as mentiras pareciam reais. Eu mesma estava quase acreditando.


Mentira.


Fechei os olhos e virei em direção à entrada do Salão, pensando "Accio Certidão". O documento surgiu quase que imediatamente e voou para minha mão.


— Tenho provas – eu disse. – O senhor pode muito bem mandar uma coruja ao ministério e confirmar se é verdadeira.


Enquanto Snape ponderava, observei atentamente a mesa dos professores. Mcgonagall e Slughorn me encaravam em evidente choque, esperando o momento em que eu seria pega na mentira. Gina me encarava ao lado de Luna e Neville.


— Hm, enquanto não confirmamos, junte-se à nós, Srtª. Dumbledore. E menos 70 pontos para Grifinória pelo atraso.


Com um olhar atento a Snape, notei que ele parecia temer por mim. Convenhamos, todos sabíamos que ele sempre fora fiel a Alvo Dumbledore, e se ele estava ali, como diretor, era por conta de uma promessa a ele. Se ele ainda era Comensal era por esse mesmo motivo, pois ele nunca voltaria a ser leal a alguém como Voldemort, não depois de tudo que ele fez a Snape.


O professor parecia estar usando Legilimência¹ para entrar em minha mente e descobrir a verdade. Enquanto fingia não perceber isso, deixei que ele visse a verdade. Eu confiava nele, e fiz questão, repentinamente, de deixar isso claro para ele. Não sabia se ele também via pensamentos além de lembranças e sentimentos, pois nunca usei Legilimência, mas quis tentar.


Confio em você, Snape. Assim como Dumbledore. Não me decepcione.


Ele pareceu extremamente intrigado, e isso me deixou claro que ele ouvira e sentira aquilo. Ele sabia que eu realmente confiava nele.


Virei, encaminhando-me para a mesa da Grifinória, ou pelo menos tentando.


— Não, não, não, Srtª. Dumbledore. – Ele sempre escarnecia do título. – A senhorita não pertence mais à Grifinória.


— Eu sou da Grifinória – eu disse.


— Eu digo que a senhorita é da Sonserina.


— Ela é minha aluna, Severo. – Mcgonagall se fez ouvir. Fiquei levemente em choque ao vê-la tomar partido para me defender.


— Não é mais – disse Snape, com um sorriso sínico.


— Mas...


— Não, professora – eu disse. – Isso não é problema.


Snape apontou a varinha para mim e tudo que era vermelho e dourado se tornou verde e prateado. O leão tornou-se uma cobra. Encarei Snape e cada um de seus colegas com cara de poucos amigos e uma vontade imensa de xingá-los de todos os palavrões que existem. Passei a mão pelos cabelos curtos e fui para o único espaço na mesa da Sonserina. Só depois de sentar foi que notei de quem eu estava perto. Draco Malfoy estava à minha frente.


Minha sorte é tão boa. Alguém tem um pouco de Felix Felicis aí? Eu agradeceria imensamente.


Ao meu lado, uma menina aparentemente do primeiro ano estava prestes a chorar. Quando seu olhar encontrou o meu, ela gritou e se levantou, saindo de perto de mim. Eu bufei. Todos ainda me encaravam.


— Qual é o problema de vocês? – perguntei, completamente irritada. – Perderam algo aqui?


Eu falava isso com as pessoas perto de mim. Elas, por sua vez, desviaram os olhares; algumas pessoas pareciam assustadas.


— Hunf – bufei outra vez.


O banquete começou, mas eu não toquei em nada. Passei todo o tempo encarando minhas mãos sobre a mesa para não correr o risco de socar Malfoy ali, naquele momento.


— Hey, – ouvi Pansy chamar. – Qual é, , não espera mesmo que eu a chame de Dumbledore, espera?


— O que você quer? – perguntei.


— Aquela história de ser uma Dumbledore é mentira, né? Seus pais eram trouxas, não eram?


Inclinei-me por sobre a mesa, olhando dentro dos olhos daquela cretina.


— Você acredita mesmo que eu viria aqui se fosse mentira? Sério? Com os tempos em que estamos? – Sorri maldosamente. – Você é muito burra. Se for mentira, Pansy, você me verá indo à Azkaban logo, logo. Acha mesmo que eu correria tal risco?


Ela não disse nada. É claro que eu correria o risco. Eu estava correndo o risco em questão. As pessoas por perto observavam – incluindo Malfoy.


— Aham, acho. Você é uma aberração louca.


Acho que as duas últimas afirmações dela eram válidas.


Semicerrei os olhos e voltei a encarar minhas mãos.


— Aliás, por que mataram seus pais?


— Aqueles malditos os mataram porque são um bando de desocupados. E se você perguntar mais uma coisa, juro que vou fazê-la se arrepender.


Pela expressão que fez, eu pude jurar que ela me levara a sério.


Fomos liberados. Tive que acompanhar aquela Comensal da Morte, a Aleto Carrow, que me guiou até as masmorras.


Como se eu não soubesse, graças aos livros de J. K. Rowling, a localização da Sala Comunal Sonserina.


A senha era Malevolência. Adentrei o salão comunal bem... sonserino, se é que me faço entender. Aquilo me dava náuseas.


As meninas foram praticamente todas para seus dormitórios. Fiquei ali no salão mesmo; sentei-me ao lado de uma garota que provavelmente era do primeiro ano, bem pequena, que estava de frente para a lareira. A garota, ao me ver, correu para longe com um pequeno grito agudo.


— Mas qual é o problema dessas meninas? – perguntei à meia voz para ninguém em particular.


— Jura que não sabe? – Virei-me para ver a menina pálida de cabelos escuros e olhos claros. Seu nome era Amelia; tivemos poções juntas no ano anterior.


— Juro – eu disse. – Não faço ideia.


Ela remexeu a bolsa em cor verde sobre suas pernas. Tirou de lá um exemplar d'O Profeta Diário.


— Tome. – Ela o entregou a mim.





Sangues Ruins - A escória do mundo bruxo.





Mais uma prova de que os nascidos trouxa são uma ameaça à comunidade bruxa.





, 17 anos, nascida trouxa recém chegada à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, mostrou-se uma jovem conturbada e de comportamento preocupante. Sua família trouxa foi brutalmente assassinada no Brasil, América do Sul, onde residiam. Testemunhas afirmam que não havia ninguém próximo à casa com magia além dela. As mesmas testemunhas afirmam que ela parece perigosamente desequilibrada e com comportamento anti-trouxa. Diz ainda:


— Ela é anormal e isso a torna ainda mais perigosa. Os que estão em Hogwarts certamente já viram que ela é capaz de
muita coisa. Recuso-me a mostrar minha identidade com medo do que ela fará a mim se descobrir. Se ela é capaz de acabar com os pais trouxas, o que seria de minha família e de mim?


A anormalidade em questão é o fato de não precisar de varinha como todos nós, bruxos comuns. Na verdade, ao usar a varinha, testemunhas afirmam que ela tem o poder de dois bruxos poderosíssimos juntos. É claro que não há provas concretas de que a menina tenha
mesmo cometido tais crimes. Mas era de esperar que a anormalidade dela em bruxaria fosse suficiente para salvar a família de um ataque de bruxos das trevas, certo? O que nos leva a pensar que ela é uma bruxa das trevas. Não me surpreenderia se soubesse mais tarde que é partidária d'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.


Acredito que o que temos a fazer é esperar que o Ministério faça alguma coisa. Não podem deixar uma bruxa como ela à solta, muito menos aprendendo magia em Hogwarts, se o que ocorreu aos trouxas foi mesmo culpa dela.


Escrito por: Rita Skeeter.





— Puta que p... – Eu devolvi o jornal para a menina. – Snape e os outros não acreditaram no que eu disse – falei, em voz alta. – Me mantêm aqui para me entregar ao Ministério. Filhos de uma...


Logo entendi. Eles me prenderiam na frente da comunidade bruxa, acusando-me das mesmas coisas que Rita Skeeter. Será que ela sabia o quanto cooperara com Comensais? Será que era uma deles? Só Deus pra saber o que fariam comigo depois que supostamente fosse levada à Azkaban. Era o mesmo caso que logo seria com Harry Potter. Eu estava ferrada – para não ser mais grossa e vulgar.





Legilimência: como é uma palavrinha difícil de lembrar, vou colocar o que ela significa. Legilimência é a capacidade de ver os sentimentos e lembranças da memória de outras pessoas. Aqueles que dominam a legilimência são capazes, sob determinadas condições, de penetrar a mente de suas vítimas e interpretar suas conclusões corretamente. Alvo Dumbledore, Severo Snape, Salazar Slytherin e Lord Voldemort eram brilhantes em legilimência. A legilimência pode ser impelida pela Oclumência.


A legilimência pode ser muito usada em casos de emergência, o mesmo caso do Veritasserum.











Capítulo 3


E que comece a tortura!






Enquanto o desespero consumia meu corpo lentamente, eu me perguntava o que seria de mim. Snape entendera que eu sabia o "segredinho" dele, não? Ele ia pegar leve comigo e me proteger, não ia?


Ia?


Eu não podia confiar inteiramente nisso. Eu não sabia, afinal, até que ponto Dumbledore prevenira-o a meu respeito.


Senti um frio na barriga quando vi Snape e seus amigos Comensais adentrarem o Salão Comunal com os olhos em mim. Meus novos colegas de Casa observavam a cena sem pestanejar. Céus, como eu sentia falta da Grifinória naquele momento. Eu sabia que eu tinha amigos lá que me passariam a sensação de segurança e proteção. E aqui, o que tinha? O menino que entregara meus pais à morte? Uma menina que me odiava profundamente? Centenas de alunos que me repudiavam?


Se eu disser que eu estou enrascada, estou apenas descrevendo a ponta disso tudo.


— Senhorita Dumbledore? – O tom de voz dele me causou arrepios de medo. Nunca me sentira tão acovardada.


— Sim, senhor? – Mantive a voz calma e vazia, pois jamais daria a eles o gostinho de saberem que me afetavam. Ha, ha, até parece que eu me rebaixaria desse jeito.


— Precisamos conversar.


Pronto. Fodeu de vez.


— Pode falar – tive a cara de pau de dizer. Eu sabia muito bem que ele não queria conversar coisa alguma. Queria mesmo era me torturar, é claro, para manter a pose dele de fodão-que-matou-Dumbledore. E eu tinha que manter minha pose de bruxa de sangue puro rebelde que não tinha medo de nada.


— Acompanhe-me, por favor. – O falso tom cordial da voz dele deixava claro que, por piores que as coisas fossem ser nesse ano escolar em Hogwarts, ele gostaria de manter suas pequenas sessões de tortura comigo em segredo. Está se perguntando por que me refiro ao pedido dele para conversar comigo de início de sessões de tortura? Ora, todos nós sabemos como este ano será para os alunos de Hogwarts. Não todos, é claro. Mais especificamente para pessoas como eu, que apóiam Harry. Quem se lembra de como o Neville estava quando Harry, Rony Hermione e ele tornam a se encontrar lá para o fim de Relíquias da Morte? Eu tinha absoluta certeza de que, comigo, seria algo assim.


E preciso dizer: eu estava completamente apavorada.


Oh, meu Deus, era o que eu pensava, enquanto punha a alça de minha bolsa vermelha por sobre o ombro, empunhava a varinha sob as vestes escolares e me levantava vagarosamente, com cada célula de meu corpo relutando em seguir em direção à dor.


Apertei a varinha e a alça da bolsa com mais força para esconder o tremor de minha mão. Meu olhar encontrou o de Draco. O tremor aumentou. Agora era de ódio.


Deixamos a masmorra e partimos para o corredor. Tomamos escadas – eu esperei seriamente que elas dessem um surto e mudassem várias vezes para as direções erradas, mas oi? Nem Hogwarts estava ao meu lado!


Chegamos rapidamente ao corredor do sétimo andar. Meu coração disparou e meus olhos se encheram de lágrimas ao avistar aquela gárgula tão conhecida no fim do corredor em questão. Tudo que eu queria era correr e passar por ela, subir por sua escada em espiral e buscar conforto com Dumbledore.


Mas ele estava morto. Não me confortaria.


Talvez, na verdade. Ainda havia seu retrato na parede, mas nem de longe é a mesma coisa.


Snape parou de repente no corredor, e os irmãos Carrow seguiram seu exemplo.


— Muito bem. – Snape me jogou no chão, onde eu caí. Fiquei lá sentada, sem deixar minha expressão mostrar que cair de bunda no chão - literalmente - doera. Ele me olhava de cima, com expressão de nojo. – Você sabe onde Potter está. Quero saber agora.


Droga. Estaria ele falando sério? Ele sabia que, se alguém sabia como encontrar Harry, este alguém era eu. Será que ele queria realmente saber onde Harry estava, ou isso fazia parte do jogo?


Fiquei a olhá-lo, desnorteada por um tempo devido aos meus devaneios. Ele não parecia inclinado a ser paciente.


— FALE AGORA! – berrou. As carnes de seu rosto tremiam. Eu estremeci.


— Não sei – disse. Numa boa, eu merecia um Oscar pela cara de inocência que eu exibia, e pela voz fininha de uma garota completamente indefesa.


— Está mentindo! – PAFT! Ele meteu a mão na minha cara, sem nenhuma piedade. – Não me faça perguntar outra vez; juro que sou capaz de usar Sectumsempra pra arrancar a verdade de você! E a senhorita sabe muito bem o que essa maldição faz.


Sem sombra de dúvidas que sei.


— Aham. Você arrancou a orelha de George Weasley com ela.


Ele não parecia nem minimamente afetado.


— Quero a verdade – sibilou para mim. – Crucio!


Se eu dissesse que berrei, estaria mentindo. Aquilo foi muito, muito potente. Doía em meus próprios ouvidos. Minha voz não vacilou nem por meio segundo enquanto eu berrava e me contorcia no chão, numa agonia sem tamanho. Aquela tinha que ser a pior dor do mundo. Eu queria morrer.


— Vai falar agora? – Ele me libertou da maldição e eu fiquei completamente enjoada. Cada fibra de meu corpo tremia. Eu não tinha forças nem para ficar sentada.


— M-mas e-eu já disse...


— CRUCIO!


Foi ainda pior que da primeira vez. E eu gritava ainda mais alto. Os Carrow riam tão alto que chegava a ser assustador.


— Por favor, professor, por favor... – Eu chorava sem nenhum pudor, largada no chão, completamente esgotada. – Eu não estou mentindo, eu juro, por favor...


— Se soubesse, não nos contaria – disse ele, sorrindo. – Não sem um bom motivo. CRUCIO!


Eu berrava absurdamente alto, implorando de todas as maneiras possíveis. Aleto Corrow, achando pouco, pôs-se a escrever toscamente em meu braço a frase "Sangue-ruim ou traidora do sangue?", escrevendo isso com meu próprio sangue, gravado em minha carne. Eu chorava desesperadamente. Não tinha forças para articular pedidos por clemência.


— Por Merlyn! – Eu ainda urrava em agonia, mas pude reconhecer brevemente aquela voz. Snape me libertou da maldição e eu chorei de alívio.


Snape parecia avaliar a situação. Ou melhor; parecia decidir se deveria ou não se preocupar com Amelia. Acabou, para minha sorte, escolhendo me deixar para lá.


— Voltem para sua Casa – ordenou-nos.


Amelia não sabia como reagir. Não sabia se corria para pedir ajuda ou se tentava me socorrer ela mesma... Contudo, quando ela fez menção de se aproximar, fiz um sinal para que se afastasse. Podia sentir aquela coisa subindo pela garganta...


Vomitei lindamente. Sério. Fiquei com tanto nojo que acabei por vomitar outra vez.


Encolhi-me para me afastar daquela coisa nojenta que acabara de sair de mim, tapando o rosto febril nas mãos. Eu não estava bem. Eu não estava nada bem mesmo.


— Você decididamente precisa ir à ala hospitalar – disse Amelia que, com um aceno de varinha, fez aquele treco gosmento desaparecer do chão. Respirei fundo, aliviada.


— O-obrigada, Lia – foi o que saiu por meus lábios ressecados.


— Lia – repetiu ela. – Gosto de como isso soa. Me chame assim, daqui para frente. – E sorriu.


Não era minha intenção apelidar a menina, mas o "Ame" de "Amelia" sumiu enquanto eu falava. Tsc.


Pelo menos ela gostou.


Então, Amelia me deu sua mão como apoio, e eu a segurei, grata. Não havia reparado, mas ela resgatara minha bolsa, que agora pendia em seu ombro. Ao ver meu olhar, disse:


— Sua varinha está aqui também, viu? Agora vamos; Madame Pomfrey cuidará disso...


O caminho para a ala hospitalar pareceu tão longo quanto caminha da estação de trem de Hogsmeade até o castelo. Eu estava muito mal.


Madame Pomfrey fez um belo muxoxo em protesto ao ver o que me acontecera. Fez Amelia explicar tudo, então botou-a para fora de lá, e logo desatou uma torrente de xingamentos a Snape e os Carrow, que envolvia algo como "ah, mas eles vão se ver comigo, aqueles filhos de uma...!" Confesso que isso contribuiu com meu ânimo.


— Sei de uma poção muito boa para amenizar os efeitos da Maldição Cruciatus. – Enérgica como era, não parava de andar e catar coisas pelo caminho enquanto falava. Juro que não acompanhei nem um décimo dos seus passos. – Graças aos céus, é bastante simples; você está péssima... Ah, Profª McGonagall!


McGonagall?! NÃO! Não podem envolvê-la nisso. Tudo o que eu não quero é prejudicar mais alguém!


— Qual o problema, Madame P... – E então seu olhar caiu sobre mim, deitada na maca. Eu não tinha ideia do que ela via. – Mas que diabos...


Madame Pomfrey repetiu as palavras de Amelia.


— Mas Severo vai se ver comigo! – McGonagall já se retirava.


— Não! – gritei. Minha voz estava estranha. – Por favor, não!


Ela ficou paralisada. Não esperava aquilo, mas até que gostei.


— E por que não?


— Sei... no que estou me metendo – eu disse. – Esqueça isso.


Esperava uma reprimenda depois de um insolente "esqueça isso", mas ela suspirou.


— Se eu não tivesse prometido ao Dumbledore... – começou ela, num tom irritado.


— Prometido o quê?


Pensei que ela não fosse me contar. E ela me surpreendeu outra vez.


— Prometi que confiaria em você e em suas decisões como confiava nele e nas dele. – Ela franziu a testa. – Já estou arrependida.


— Não vale à pena comprar briga por tão pouco.


— Pouco? – Ela parecia extremamente furiosa. – Pouco?


— Ele só queria saber onde Harry está – eu disse. – Acredite, professora. Eles estão só começando.





Consegui sair de lá minutos depois, após implorar que Madame Pomfrey me liberasse. Ela só deixou que eu saísse quando prometi que tomaria a poção nas horas certas e retornaria regularmente à ala hospitalar para ela checar meu progresso. E então, com um frasco de poção na mão, retornei cambaleante às masmorras.


Assim que passei pela porta, todo mundo calou a boca ao mesmo tempo. Deus sabe como eu amava aquela situação.


— Pensei que não fosse voltar tão cedo – disse Amelia, se aproximando de mim e puxando minha bolsa pesada para me ajudar.


— Madame Pomfrey concluiu que estarei tão bem aqui quanto lá – menti. Eu só estava ali porque não queria dar o braço a torcer e mostrar que era fraca. Ou seja, puro orgulho. – Além disso, não estou tão mal assim.


— Você já se olhou no espelho? – retrucou.


Ao ouvir suas palavras, abri minha bolsa e de lá tirei um pequeno espelho. Eu estava ainda mais pálida do que um albino – bom, acho que nem tanto – e minha pele, além da palidez, assumira um tom esverdeado. Aqui e ali haviam arranhões na pele, que eu provavelmente ganhara enquanto me contorcia pelo chão em agonia. O mais horrendo era um corte meio cicatrizado que fora feito com o tapa de Snape – ele BEM QUE PODIA ter pegado leve com isso, né.


— Nossa. Que coisa – murmurei, para que só Amelia ouvisse. – Quero me deitar, Lia. Me ajuda a achar meu dormitório?


— Claro – disse ela, dando as costas para mim, em seguida, e indo por um corredor, carregando a minha bolsa. Só não gostei porque tive que passar ao lado de Draco, Crabbe, Goyle, Parkinson e Zabini.


— Pena que não fui eu quem a deixou nesse estado – comentou Pansy com o grupo, rindo-se. Eu fingi que não ouvi.


— Já chega, Pansy. – Draco se levantou, olhando para ela com expressão irritada. – Já chega. – E saiu de perto dos amigos. Confesso que isso me deixou confusa. Bom, os amigos dele também ficaram.


Balancei a cabeça e segui Amelia.


É, esse seria um ano bem complicado.





Quando acordei na manhã seguinte, ainda sentia as dores dos maus tratos da noite anterior. Tive que ter muita força de vontade para me levantar da cama de espaldar coberto por cortinas verde-escuras enfeitadas com detalhes prateados, e jogar para lá os grossos e confortáveis cobertores que combinavam com as cortinas e todo o resto da decoração. Minhas colegas de quarto ainda dormiam, assim como Amelia. Levantei e fui para o banheiro, e eu já não aguentava mais ver tanto verde e prata para tudo que era lado.


Depois de tomar banho e fazer todo o procedimento de higiene matinal, fui para o Salão Principal tomar meu café da manhã. Percebi que fazia tempo que eu não comia nada.


Estava subindo as escadas para deixar as masmorras quando tropecei quase caí lindamente de cara no chão. Tive muita sorte; alguém passava por ali e teve a bondade de me ajudar a me manter de pé. Olhei para o rosto da pessoa enquanto ela falava: "hey, vá com calma, garota..." num tom de voz quase doce. Meu sorriso de gratidão esmaeceu ao ver quem era.


Aquilo tinha que ser uma brincadeira de mau gosto. Ele logo largou minha cintura, meio sem graça. Se não fosse tão moreno, poderia ter corado.


— Obrigada, Zabini – eu disse. Sim, Blásio Zabini, amigo de Draco Malfoy, estava ali comigo naquele momento constrangedor.


Ele parecia indeciso – não sabia se sorria e dizia que estava tudo bem, se me desprezava, se me perturbava com xingamentos e ofensas... Acabou decidindo por manter sua arrogância.


— Não há de quê – disse formalmente.


Esbocei mais um sorrisinho para ele e saí de perto, indo para o Salão o mais rápido que pude. Ao chegar lá, fui automaticamente para a mesa da Grifinória, mas aí me lembrei que aquela não era mais minha mesa.


! – Gina correu e me abraçou.


— Gina – murmurei, observando Zabini se juntar aos amigos. Percebi que conversavam com os olhos em mim.


— O que houve? – perguntou Simas.


— Fui torturada – eu disse. – Acham que eu sei onde Harry está.


Todos os meus amigos ali arfaram.


— Mas... É absurdo – disse Luna, me surpreendendo. Pouca coisa parecia impressioná-la.


— Eles não se importam – eu disse a ela.


! – A Profª McGonagall vinha pelo corredor entre as mesas da Sonserina e da Grifinória. – Meu Deus, você deveria ir para a ala hospitalar agora mesmo...


— Estou bem, professora – eu disse, apenas. Ela me lançou um olhar severo.


— Não acho que Dumbledore ficaria feliz em saber que a senhorita não anda se cuidando direito...


— Ouça o que a professora diz, – sugeriu Parkinson. De onde foi que ela saiu? Mas que coisa! – Não vai querer desapontar o vovô, não é mesmo? – E riu. – Mas... me diz uma coisa. Como pode ser neta de Dumbledore e não se parecer nem minimamente com ele?


Percebi que todos queriam essa resposta, até mesmo a professora. Porém, Pansy era a única com coragem de me perguntar.


— Meu pai era filho de Dumbledore, e, bom, eu me pareço bem mais com a minha mãe.


Verdade. Eu me pareço muito com minha mãe. Na verdade, havia em minha casa fotos dela aos 17 anos, e éramos quase iguais.


Mas meu pai não era filho de Dumbledore, nem se parecia com ele.


— A trouxa assassinada no outro dia? – perguntou Pansy, sorrindo como se tivesse ganhado um prêmio. – Aquela escória...


Chega, foi o que pensei. Para mim já chega. Vou dar um basta nesta situação! Eu estava muito cansada, com dor e faminta... Simplesmente não tinha capacidade de raciocinar.


Corri até Pansy, peguei em seu pescoço e a coloquei no chão sem nenhuma delicadeza. Ela gritou.


— Minha mãe não era trouxa e é melhor você calar essa sua boca, vadia! Se tem alguma escória, é você! Não se atreva a falar da minha mãe! – Enquanto eu gritava para ela essas palavras, subi em cima dela, literalmente, e comecei a estrangulá-la. As pessoas no salão principal arfavam e todos começaram a comentar. Peguei a varinha, pretendendo lançar uma bela maldição nela.


Então, alguém me pegou pelo braço, e logo outras mãos e mais outras seguravam meus braços.


— Fazendo baderna, ahn, Srtª. Dumbledore? – Snape parecia animado. Eu jurava que, no fundo, seu olhar era como o de McGonagall; preocupado e furioso pela minha atitude. – Levem-na daqui – ordenou aos Carrow.


Merda, merda, merda, mil vez merda!


Os irmãos pareciam felizes em serem os encarregados pelo meu castigo. Severo não queria me machucar, eu sabia disso, mas os verdadeiros Comensais? Ah, esses queriam meu sangue.


Literalmente.


— Sendo quem você é, se eu estivesse em seu lugar, seria a melhor aluna da escola – disse Aleto, com um sorriso maldoso. – Porque você não vai gostar nadinha do que vai te acontecer.


Amico parecia entediado. Deixou-nos ali e foi para o Salão novamente.


Aleto estava tão perto de mim que pensei que ela fosse lançar a Maldição Cruciatus, mas, para minha surpresa, ela fechou o punho e me socou. Sim, o mais trouxa possível.


— Nunca engoli essa história de que você é neta do velho biruta – disse ela. – Para mim, você é só uma aberração ainda pior que os malditos trouxas ou os sangues-ruins nojentos. CRUCIO!


Dor. Amarga dor. Eu gritei e ela gargalhou.


— Encarcerus!


Uma corda surgiu, envolvendo meu pescoço. Tentei puxá-la, mas ela prendeu também minhas mãos e braços.


— Quer um conselho? Me entregue Potter; as coisas ficarão bem mais fáceis para você! Crucio!


Mais um berro. É.


— E então?


— Eu não sei – menti.


— Crucio! – Outro grito. – Resposta errada.


— Eu não sei!


A tortura continuou por mais meia hora. Eu sangrava muito pelo nariz e por uns cortes. Meus olhos estavam inchados pelo choro; eu podia sentir. Nem vou dizer como eu me sentia emocionalmente.


— Vai dizer?


— Vou – eu disse. – Eu conto onde Harry está.


Ela riu.


— Severus! Severus! Ela vai entregar Potter! Vou chamar o Lord...


Snape estava ali? Eu nem havia percebido.


E o que foi que ela disse? Chamar o Lord? COMO ASSIM?


Fodeu.


— Espere, Aleto. não entregaria à toa seu querido Potter. – E finalmente pude vê-lo. – Se bem que ela tem bons incentivos, agora. Onde ele está?


— No inferno. – Cuspi no chão. Só o que vi foi sangue. Pus-me de pé. – Vá procurá-lo lá e aproveite para não voltar.


— Sectumsempra!


Se antes senti dor, não fora nada. Gritei como nunca havia feito antes. Foi aí que tudo ficou escuro.






















Capítulo 4


Completamente Louca






! – Quem berrou meu nome dessa maneira tinha uma voz potente e aguda que fez meus tímpanos doerem. Lutei com meus lábios para que se mexessem e mandassem aquela pessoa calar a boca de uma vez, mas nada. Tentei abrir os olhos para ver quem era o ou a desesperada, e nada. Alguém, talvez o mesmo "ser" que berrava meu nome, jogou um líquido gelado na minha cara. Eu arfei com a baixa temperatura. Com isso, fui recuperando aos poucos a sensibilidade, tendo consciência de que meu corpo latejava com dor, ainda sem conseguir abrir os olhos ou falar algo. – !


— OI, OI – gritei. Bom, era para ser um grito, mas estava mais para um grunhido de trasgo montanhês. É. Perfeitamente lindo. E isso, para completar, fez minha garganta doer.


— Falei que conseguiria acordá-la. – Finalmente reconheci a voz que gritava por mim. Era de Gina. – Você está bem?


— Sim, ótima! – disse mecanicamente, piscando freneticamente meus olhos para focalizar o grupinho que me rodeava, mas sem sucesso. Mal conseguia ver Gina a centímetros de meu rosto.


— Pare de mentir – disse Gina, parecendo realmente brava quando finalmente consegui enxergá-la. Olhei ao meu redor e notei Blásio, Córmaco, Gina, Neville, Luna e Amelia. Todos me observavam como se eu estivesse com as tripas de fora ou algo assim. Tive medo de me mover. Eu não conseguia sentir meu corpo muito bem, só aquele latejar constante em cada músculo, mas sabia que quando movesse um dedo... Pronto, já era. Toda a dor desabaria sobre mim.


— O que foi, gente? – perguntei.


— Diga-nos você – retrucou Gina. – Te arrastaram do Salão Principal depois que bateu em Parkinson, aliás, que ideia idiota foi aquela, mocinha? – Com as mãos na cintura, ela me pareceu bem mais velha que eu, ou eu pareci uma criança, e, tanto faz, sem falar que ela era a Sra. Weasley em pessoa. – Viemos te procurar e te achamos assim!


Quando esqueci que me mexer doeria, tentei levantar, e aí me ferrei, para não ser mal educada. Minha perna tinha um corte, e pude sentir que ele sangrava violentamente agora. Eu gemi alto.


Córmaco foi quem tomou uma atitude diferente de assistir ao sangramento de minha perna: chegou perto de mim, se abaixou e me pegou nos braços fortes. Pensei que seu toque me faria sentir ainda mais dor, mas me enganei. Ele foi tão delicado que me surpreendi. Ele parecia realmente bruto nos livros, mas ao vivo era outra coisa.


— O que pensa que está fazendo? – perguntei. Quando ele me tinha firme em seus braços, nossos narizes quase tocaram. Meio que suspirei ao encará-lo de tão perto. Wow. Ele era gato.


Veja bem: estou toda destroçada e ainda penso na beleza do cara. Maravilha, não? Devia significar que eu já estava pronta para outra.


Okay. Não.


— Vou te levar à enfermaria. – Meu Deus, como ele é bonito! Faltava-me o ar. Pestanejei diversas vezes enquanto o encarava, e ele me deu um sorriso safado. Aí me toquei: eu estava dando mole para ele! BURRA! Como posso fazer isso? Fiquei muito constrangida, e a saída foi esconder meu rosto no ombro dele.


Ele saiu comigo pelo corredor e eu não protestei. Ele era tão forte. Nossa. Meu peso nem parecia incomodá-lo. Tanto que nem se lembrou de usar magia para me carregar.


Acho que o que tem em beleza falta em inteligência. Tsc.


Ele logo tratou de me colocar com cuidado e carinho numa das macas, me olhando ainda com aquele olhar safado dele. Madame Pomfrey logo veio cuidar de mim – de novo –, lamentando-se que mal começara o ano e eu chegara naquele estado deplorável ali mais uma vez. Não posso fazer nada, certo? Preciso completar a droga da missão de Dumbledore. Para tanto, preciso permanecer em Hogwarts.


Os outros, que ficaram para trás, entraram poucos minutos depois de chegarmos. Inclusive, Blásio entrou. Contudo, não se demorou e logo saiu. Eu fiquei encarando-o abertamente antes que ele se fosse para ver se me dizia algo, mas... tudo o que ele fez foi me olhar intensamente, e, depois, partir. Estranho.


— Aquele Zabini... Ele é o melhor amigo de Malfoy! Que fazia aqui? – Gina perguntava a mim, fazendo com que eu parasse de encarar a porta por onde o foco do assunto saíra.


— Eu não sei – respondi. – Estou tão ou mais surpresa que você, para falar a verdade.


— E quanto a ela? – Gina olhou abertamente e sem cerimônias para Amelia de cara fechada, e ela instantaneamente ficou escarlate.


— Amelia Armstrong é legal, Gina – eu disse, num tom repreensivo. – Não é como os outros de lá.


— Hunf.


Gina cruzou os braços e me deu as costas. Eu não podia acreditar. Que estava acontecendo com Gina? Fiquei observando-a, enquanto ela se mantinha na postura irritada, olhando para fora da janela.


Madame Pomfrey veio me medicar e tratar de meus ferimentos. Foi um momento ruim, mas era para meu bem. Logo se afastou. Olhei para Gina uma vez mais. Ela ainda não se movera.


— Gina, qual é o problema? – Fui direto ao ponto. Aquele clima estava constrangendo todo mundo ali.


Gina chegou a me assustar. Aquelas palavras foram como se eu abrisse uma torneira: o que ela pensava jorrou como água.


, talvez você não se lembre, mas na última vez em que confiou em alguém da Sonserina, pessoas que você ama morreram! – Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu num "O" de espanto. – Dumbledore, quando é que vai aprender a confiar somente nas pessoas certas?


Como ela podia ser tão dura comigo? Será que tinha noção do quanto aquelas palavras me fizeram mal? De repente, senti-me a garota mais idiota do mundo, a culpada pela morte dos próprios pais, cuja culpa baseia-se no fato de que amou o menino errado. O que era a realidade, eu sabia disso, mas ela precisava realmente me lembrar?


— Não preciso que você me lembre que meus pais morreram porque confiei demais num comensal da morte, okay? – eu disse à Gina, com lágrimas ameaçando cair em meus olhos. – EU SEMPRE SOUBE QUEM ELE ERA, MAS EU O AMAVA, GINA! ACHEI QUE ELE PODERIA MUDAR, QUE QUERIA SER DIFERENTE! E SE FOSSE HARRY?


Gina arregalou os olhos e sua expressão passou de fúria à culpa e vergonha um instante. Claro que se fosse Harry ela faria a mesma coisa.


Mas não havia cabimento algum em comparar Harry e Draco. Eram pessoas diferentes, com valores diferentes. E claro que Harry era uma pessoa muitíssimo melhor.


— Cometi uma merda de um erro horrível, mas porque ele é assim não significa que todos da Sonserina também são! Lia é a única pessoa que me apóia lá!


— Desculpe, . – Ela suspirou, encarando os sapatos.


Virei o rosto, limpando duas lágrimas que escaparam e recompondo a expressão. Na certa, minhas bochechas estavam coradas e meu nariz vermelho. Argh.


— Perdoe-me – pediu Gina.


— Esquece – murmurei.


Eu já estava de saco cheio. Precisava trabalhar na missão à qual Dumbledore me incumbira o quanto antes. Pois, assim que conseguisse a merda de arma secreta que provavelmente faria com que Voldemort triunfasse no final dessa história, eu poderia me libertar dessa prisão de dor, sofrimento e angústia, e assim viver em paz em algum lugar.


De preferência, no meu mundo trouxa. O mundo da magia era muito complexo – percebi tarde demais.





No restante desse dia e no seguinte, tive bastante tempo para pensar em Harry, Rony e Hermione em sua caçada pelas horcruxes. Eles, juntos, tinham muito mais chance que EU nisto tudo. Havia Hermione, muitíssimo inteligente, e Harry, cheio de valentia e com um talento para desvendar mistérios. Rony sempre tinha um surto surpreendente que realmente solucionava muita coisa, sem falar que ele fará tanto ou mais que Harry. Tá, não mais, mas definitivamente destruirá duas das horcruxes. Agora, como, meu Deus, eu sozinha posso ter isso tudo? Só sirvo mesmo para saco de pancadas e para exibir meus poderes anormais até para uma bruxa. Argh. Dumbledore tirou praticamente toda a responsabilidade das costas dos três e jogou para mim. E vem cá, dona J.K. Rowling, como pode ter deixado um pequeno detalhe como A ARMA SECRETA QUE SUPOSTAMENTE IMPEDE VOLDEMORT DE MORRER escapar em sua narração? COMO? E Dumbledore, como pode deixar tudo isso para mim apenas com uma ordem e nenhuma explicação?


Estão querendo me ver louca. Só pode.


Era hora de surtar.


Após alguma melhora – ou seja, algumas horas na enfermaria –, levantei no meio da noite, sem um plano formado em mente, e fiz meu excelente feitiço da desilusão em mim. Eu não seria pega nos corredores, disso podia ter certeza. Quando dei as caras no corredor, uma coisa extremamente óbvia me ocorreu, e me apressei para o corredor do sétimo andar, finalmente tendo uma fagulha de excitação no meio de tudo de ruim. Não me deixei hesitar ao chegar à gárgula que guardava a escada para o escritório do diretor.


— Lord das Trevas – eu disse. A gárgula deu passagem, e pude ver a familiar e em outros tempos acolhedora escada em espiral que levava ao escritório do diretor. Eu não tinha conhecimento prévio da senha, mas era absolutamente previsível.


Ao chegar à porta, não bati; fui entrando sem pudor. Snape encarava o horizonte pela janela, com uma mão segurando a outra nas costas, como se estivesse muitíssimo distraído. Havia até o semblante, que eu via meio de lado, que parecia sereno, como se estivesse só. Mas provavelmente sabia que havia alguém com ele no cômodo. Contudo, não se deu ao trabalho de se mover.


— Precisamos conversar! – eu disse, depois tranquei magicamente a porta. Só então lembrei que estava invisível. – Finite! – Com esse feitiço, tornei-me visível novamente. Ainda assim, qualquer um poderia nos ouvir. Encarei a porta e empunhei a varinha no alto: – Abaffiato!


— Não esperava vê-la aqui, senhorita Dumbledore.


— Severus, eu sei que você não é Comensal. Sei que ainda é fiel a Dumbledore.


Eu o matei – disse. Ele era realmente convincente. – Não seja tola.


— Severus, por favor, sem teatrinhos comigo – eu disse. – Você deveria saber que sei de tudo sobre todos com quem convivo no mundo da magia. Sabe que conheço seus segredos.


Os lábios dele se franziram. Claramente desgostava do fato de eu ter conhecimento de seus segredos.


— E acredito que você sabe que estou aqui em Hogwarts só por causa de Dumbledore. – Ao terminar essa frase, olhei para o retrato do Profº Dumbledore atrás da mesa do diretor. Ele dormia serenamente. – Se eu falhar... – Meus olhos encheram-se de lágrimas. – Severus, se eu falhar, tudo pelo que Dumbledore lutou, tudo o que sacrificou e o que ainda há por sacrificar... será em vão.


Snape encarou-me por um longo momento. Percebi que ele usou legilimência comigo, e então permiti. Ele suspirou após ver alguns dos acontecimentos mais recentes. Ou melhor, ao ver meus pensamentos e saber que eu confiava nele, e deve ter concluído que podia confiar em mim.


— O que posso fazer por você?


Sorri para ele. Era a primeira vez que sorria verdadeiramente em tempos.


— Preciso encontrar algo que possa impedir de que Voldemort morra no fim deste ano letivo, como deve ser. Para isso, preciso aprender a detectar magia negra.


— E como espera fazer isso do dia para a noite, ? – Snape mantinha no rosto uma expressão sarcasticamente amargurada. Típico.


— Aprendo rápido – murmurei. – Sei que pode me ensinar com perfeição.


— Não seja tola, menina. – O jeito que ele falava soava como reprimenda. Ele até fez uma careta; eu quase me esqueci que ele meio que me desprezava por causa de Harry. Esperava que isso tudo tivesse ficado no passado. Eu precisava dele, no fim das contas. – Todos notarão quem realmente sou! E inviável!


— Tenho um bom plano, Severus. Não sou uma menininha tola como você pensa que sou – eu disse, com arrogância. Argh. Parecia até com Narcisa Malfoy. CREDO. – Farei coisas que deixará longe de qualquer mente a ideia de que estamos mentindo e enganando a todos.


Snape saiu detrás de sua mesa e caminhou até mim, apoiando-se de costas na mesa enquanto me encarava.


— O que quer dizer com isso?


— Querem que eu sofra, não é mesmo? Então, você pode muito bem dar o que querem! Pode me torturar durante algumas horas em alguns dias, com o pretexto de descobrir onde Harry está e o que faz. Sabe que se o fizesse, eu jamais abriria a boca para lhes dar qualquer informação. Sabe que podem me matar que não abrirei a boca. – Eu sorri. – E enquanto você supostamente me tortura, estarei aprendendo tudo o que preciso.


— E qual será a explicação para sair ilesa de cada sessão de tortura?


— Quem disse que sairei ilesa?


Com essas palavras, ele meio que se encolheu e semicerrou os olhos. Claramente esperava que eu estivesse blefando. Esperava em vão, obviamente.


— Depois que acabarmos com a aula, você me faz alguns machucados e me atira para fora da sala, para que todos possam me ver chorando e sofrendo. Garanto que minhas lágrimas e o sangue farão um bom trabalho. – Eu sorri novamente para ele, enquanto pela expressão pude perceber que questionava a minha sanidade.


— Não posso fazer isso – disse.


— Começamos amanhã – fingi não tê-lo escutado. – Vou aprontar alguma coisa grave que mereça castigo. Aproveite e dê ordens aos malditos Carrow para me entregarem a você, não importa o que eu faça, se puder. Não vou aguentar olhar para a cara daquela vaca novamente sem amaldiçoá-la...


Sem mais, me virei e deixei sua sala. Mas não sem antes olhar uma vez para Dumbledore, e ver que dormia profundamente em seu retrato. Meus olhos marejaram, e por isso me mandei dali o mais rapidamente possível.








— Outro ponto de vista —



— Vocês acham que a voltou a Hogwarts ontem? – perguntou Hermione, observando Harry, que encarava a lareira do Largo Grimmauld, sério.


— Espero que não – disse ele. – Ela é nascida trouxa; seria como suicídio.


— Mas qual será a missão que Dumbledore deu a ela? – Rony, deitado no sofá com os pés para cima, mantinha o rosto numa carranca intrigada. Típico.


— Seja o que for, não está escrito nos livros e com certeza tem ligação com o fim que terá esta batalha entre Harry e Voldemort, como na profecia. – Hermione sentou-se ao lado de Rony, fazendo com que ele se pusesse numa posição ereta rapidamente. – Deve ser algo muito ruim. jamais gostaria de voltar à Hogwarts. Não depois do que Malfoy fez.


— Apesar de tudo, ainda não entendo como ele teve capacidade de fazer isso com ela – disse Harry, e havia um brilho de revolta em seus olhos. – Quero dizer, ele não presta, disso todo mundo sabe, mas a ... Ela fez de tudo por ele. Sabemos o quanto ela gostava dele, o que ela queria deixar para trás para salvar sua pele...


— Eu cheguei a pensar que ele gostava dela, sabe – disse Rony. – Apesar de ser o rato imundo que é, ficou com ela, mesmo com todo o preconceito por ela ser nascida trouxa...


— Juro que achei o mesmo que você, Rony – disse Hermione, com o olhar meio duro. – Eu, melhor que ninguém, conheço o preconceito nojento que ele tem. Com ela foi tão diferente que achei que ele estivesse mudando. Se eu estivesse no lugar dela, juro que cometeria uma loucura. – Ela passou a mão pelos cabelos com força, irritada. – Mas agora devemos voltar nossa atenção para os nossos problemas, já que não podemos fazer mais nada por ela. E, além disso, é de invadir o ministério que estamos falando! Vamos logo repassar os planos para recuperar o medalhão que está com a velha nojenta da Umbridge.








— Fim do outro ponto de vista —




Não dormi nada naquela noite. Eu tinha um plano e isso era um começo, mas ter começado me deixava ansiosa por terminar. Ainda mais levando-se em consideração que meu plano me traria mais dor e sofrimento.


Eu tinha conseguido cochilar, mas o dia amanhecera e era hora de ir estudar. Então, atormentei Madame Pomfrey para que me liberasse, e ela deixou que eu saísse. Tive então pequenas dúvidas de que Dumbledore pediu para todos os professores e funcionários me darem o que precisasse e quisesse. Bom, era algo ao meu favor.


Corri para o Salão Comunal para me livrar do pijama que eu usava. Eu ainda estava bastante deplorável, por isso fui o assunto das fofocas matinais. Só encontrei Amelia quando saí do dormitório e retornei ao salão comunal. Já ali, tinha usado bastante pó e blush no rosto, para disfarçar os hematomas. Ela estava conversando com Malfoy e Zabini.


COMO É? Minha amiga tinha se juntado com o inimigo? COMO ASSIM?


Quem via a cena, me comparava com aquelas mulheres traídas que vão até o marido e metem a mão na cara dele. Caminhei decidida até o grupinho e encarei minha suposta amiga.


— Bom dia, Amelia. – Meu tom era formal, e minha expressão queria dizer: "que merda você tá fazendo com esses nojentinhos?!"


! – Ela literalmente gritou e pulou em cima de mim. Por pouco não desabei. O que havia de errado com essa menina? Eu estava quase caindo e ela se atira em mim?! – Meu Deus, o que você está fazendo aqui?! Tem que se recuperar! Tem que ficar em repouso! Você-


— Hey, hey, vá com calma – eu disse a ela, arregalando os olhos. – Estou maravilhosamente bem e pronta para outra. Tão pronta que... – Foi aí que dei atenção para Malfoy e Zabini, que participavam da conversa. Eu deveria revelar meus planos na frente deles? Fiquei em dúvida, mas pensei um "que se dane" e prossegui: – Tão pronta que vou armar alguma coisa hoje.


Amelia me olhou com aquela cara de "oh, não".


— Nem pense...


— O quê, Amelia? – Eu sorri. – Me arrependi de ter retornado à Hogwarts e, já que não posso sair, vou fazer jus ao tratamento que recebo.


— Não entende o que farão com você? – Ela me pareceu bastante preocupada. Revirei os olhos. – Isso é sério, ! Eles te machucam sem você fazer nada. Se você-


— Eu não quero me meter nem nada, mas sua amiga tem razão – disse Blásio Zabini. – Estão implicando com você. No seu lugar, me comportaria muito bem. Ainda mais depois do que fizeram com você ontem.


Eu sorri para ele. Então, agora os mais filhos da mãe da Sonserina queriam ser meus amiguinhos? Veremos onde isso vai dar.


— Nunca gostei muito de regras, sabe. – Sorri para ele com ironia. – Uma das características que me levaram a ser da Grifinória.


— Vai me dizer que não combina em nada com Sonserina? – retrucou, arqueando a sobrancelha numa típica expressão arrogante de "aham, sei".


Encarei o chão, depois olhei para Amelia, Malfoy e para ele. Eu ia dizer algo que não tinha revelado para ninguém – que eu me lembre, ao menos.


— O Chapéu cogitou me mandar para a Sonserina, é verdade. – Pude perceber que os olhos de Malfoy e Amelia se arregalaram. Zabini não se impressionou. Na verdade, deu um sorriso presunçoso. – Mas eu não me importo com quem é sangue puro ou não. Portanto, não sirvo para Sonserina.


— O que pretende fazer? – perguntou Amelia, retomando o foco da conversa.


— Por ora, só vou ofender alguém. Acho que a Carrow... – disse, com um sorriso maldoso. – Para começar. Mas depois, não serei a única a precisar de cuidados da Madame Pomfrey.


— Não... , não seja tola!


Eu ri.


— Garota, por acaso as maldições Cruciatus que recebeu afetaram seu cérebro? – Ela parecia apavorada.


Arqueei a sobrancelha.


— Não é essa a finalidade? – Fiz uma expressão meio insana, completamente estranha. – Enlouquecer a vítima?


— Contigo o trabalho está completo.


Eu ri com vontade.


— Não há nada de errado comigo, Lia. – Esbocei um sorriso bondoso para ela, enquanto colocava uma mão no ombro dela, tentando acalmá-la. – Essa sou eu. Não há mais nada que eu possa perder que me faça falta, aliás. Quando isso acontece com a pessoa... Como posso dizer? Ela se torna destemida. Essa sou eu agora.


— Maluca – comentou Zabini.


— Acho isso idiotice – disse Draco, se fazendo ouvir, finalmente, depois de todo esse tempo calado. Eu o fuzilei com o olhar. – Vão acabar ferindo você de verdade. Isso pode vir a ser ainda mais grave do que já...


— Não finja que se importa. – E, ao dizer isso, dei-lhe as costas e saí de lá com Lia. Podia até falar com Zabini, mas com ele? Não. Eu preferia até ser amiga de Parkinson!





No fim do período de aulas, corri à biblioteca para encontrar uns bons livros de magia negra. Tinha feito Amelia me dizer exatamente o que estava fazendo com aqueles dois, e tudo o que me disse foi que Zabini era uma pessoa legal e extremamente amável e que Draco era um pouco deprimido, porém legal. Fiquei calada. Ela tinha direito de escolher com quem andava, mas... Esse era um bom motivo para me afastar dela.


Só que isso não me importava, não é mesmo? Não estava em Hogwarts para fazer amizades. Estava lá para destruir Voldemort. Então...


Fiquei chocada ao receber conselhos de Madame Pince para pegar emprestado algum livro da seção reservada. Dumbledore realmente me deu muitos privilégios.


Peguei um livro realmente horrível de magia das trevas e pus-me a ler no tempo livre que tive, no Salão Comunal. Era repugnante, porém útil. Inclusive, anotei dúvidas para saná-las posteriormente com Snape. Eu estava muito absorta naquele estudo. Só que...


— Estudando magia negra? – perguntou Carrow, olhando meu livro. Ela claramente achara que estava tirando sorte grande ao ir me provocar, mas o que ela não sabia é que eu tinha um trufo na manga. Ela provavelmente não podia me punir diretamente. Ou seja: eu era intocável. Amelia formava com os lábios um "por favor, não faça besteira", mas não se atrevia a falar. É claro. Por que arriscar a própria pele por alguém como eu? Afinal, eu não era realmente sua amiga.


E essa sou eu perdendo o foco novamente.


Semicerrei os olhos para Carrow. Ótima hora para conseguir um bom castigo, não é mesmo? Meus colegas observavam, já imaginando que de alguma forma eu iria parar na direção.


Mal sabiam eles como estavam certos.


— Bom, na realidade, estou aprendendo algumas azarações bem perversas. – Sorri para ela, fechando o "Livro Padrão das Piores Azarações do Mundo Mágico e Suas Contra-Azarações", e tive certeza de que ela pôde ler o nome na capa velha e desgastada. – Agora tenho apenas uma dúvida: qual delas eu posso usar em você? Ou melhor! Qual será o método mais doloroso de matar você?


— Pensei que matar fosse algo indigno de um Dumbledore – disse debilmente.


— Você não conta. – Eu ri. Era uma risadinha afetada digna de Pansy Parkinson.


Céus, a que nível estava me rebaixando!


Os que observavam arfaram, chocados com minha impertinência. Ela não gostou nada das minhas respostas. Agarrou-me pelos cabelos e me encarou, furiosa.


— Você vai pagar por isso!


— É só me dizer quantos galeões e nuques eu estou devendo! – eu disse, sorrindo. – Qual é? O que vai me fazer? Hein?


Ela estava ficando vermelha. Eu sentia vontade de gargalhar bem alto. Snape, eu te amo!


— Você tem sorte porque tenho ordens de te levar diretamente ao diretor quando tivesse problemas com você, escória! Se não fosse por isso...


— Dobre sua língua ao falar de mim! – retruquei, dando um tapa na mão que ela segurava meus cabelos. – Você não é ninguém para me chamar de escória, sua vaca maldita!


Ela fez uma cômica expressão de "como ousa?!"


— Olhe aqui, mocinha...


— Não, olhe aqui você – retruquei mais uma vez, lhe apontando um dedo. – Eu estava estudando e você não tinha o direito de vir me perturbar sem uma boa razão! Mereceu cada palavra que ouviu de mim, e ainda merece ouvir mais! Você só está no direito de me levar à direção porque eu disse que você é uma vaca maldita, te dei um tapa e ameacei te matar, e, tecnicamente, eu não posso dizer esse tipo de verdades. Infelizmente. Agora, a partir do momento que você me chamou de escória e me puxou os cabelos, você mereceu ser punida tanto quanto eu. Tecnicamente, estamos ambas erradas e, portanto, você está sem autoridade. – Olhei-a de cima a baixo com olhar esnobe e um sorriso sínico. Ela estava boquiaberta. – Mas para provar que não tenho medo de uma vaca maldita como você ou de qualquer lixo que tenha nessa escola, estou indo agora mesmo ver o diretor.


Dei-lhe as costas, juntei meus materiais e saí dali. No último relance que tive de seu rosto, ela ainda parecia idiotamente chocada. Tipo computador antigo tentando processar alguma coisa. Já à porta, ouvi alguém dizer:


— Ela é completamente louca, mas não posso negar: ela tem estilo. – E, ao olhar para ver quem era, encontrei o olhar de Blásio Zabini, ao lado de Malfoy. Sorri para Zabini e fui ver o diretor.








Continua...